As investigações acerca do sequestro do menino de 12 anos (nome preservado pela reportagem), que estava desaparecido desde 21 de abril passado, caminham para uma conclusão ainda mais grave do que já era esperado. Pelos indícios que foram colhidos, a Polícia Civil acredita que o padrasto do garoto, o soldado da Polícia Militar Emerson Carlos dos Santos, 30, que está preso desde o fim de semana passado, tenha abusado sexualmente do adolescente - a própria vítima já confirmou.
Inicialmente, a polícia acreditava que o garoto tivesse sido sequestrado pelo policial militar como uma maneira encontrada por ele para atingir sua atual companheira - mãe do jovem - mas, depois que foram cumpridos mandados de busca e apreensão na casa do suspeito, aumentaram os indícios de que ele mantivesse relações homossexuais com garotos, segundo o delegado Renato Batista da Costa, da Divisão de Polícia do Oeste, que foi designado pela Secretaria Estadual da Segurança Pública e da Defesa Social (SESED) do RN para presidir as investigações desse caso.
Entre os objetos apreendidos na casa do soldado, centenas de fotos de crianças e adolescentes e, em muitas delas, o PM pousava ao lado dos garotos. Renato explica que, inicialmente, as fotos não foram vistas com uma conotação sensual, mas foi o suficiente para levantar as suspeitas sobre o gosto pedófilo do policial. Depois que o adolescente foi resgatado de uma pousada na zona rural de Coronel João Pessoa, cidade situada no Alto Oeste, distante cerca de 220 km de Mossoró, as suspeitas mais graves foram confirmadas pelo próprio menino, que disse ter sofrido abuso sexual.
Até então, de acordo com Renato Batista, o soldado Emerson Carlos continuava tentando enganar a investigação prestando informações falsas. "Ele sempre negou que tivesse sequestrado o menino. Foi preciso ele (a vítima) aparecer para ele confessar o sequestro", explica Renato, que ontem colheu novo depoimento do policial militar. No primeiro, o militar havia negado todas as suspeitas que recaiam contra sua pessoa, mesmo após as provas conseguidas através dos mandados de busca e apreensão em sua casa, situada na Cidade de São Miguel, e também no carro.
Para Batista, o crime está completamente esclarecido e não restam dúvidas de que o menino havia sido levado pelo padrasto para fins sexuais, entretanto, ainda não foram definidos os crimes que ele será indiciado, ao término do inquérito. Pelo menos crime de "estupro de vulnerável", previsto no artigo 217-A (pena de 8 a 15 anos) do Código Penal, caracterizado pela prática de ato libidinoso com menores de 14 anos, é uma certeza. "A gente vai analisar outros crimes que ele cometeu, como infringir o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)", explica o delegado Batista.
Policial prometia presentes ao enteado
Prometer uma bicicleta e dezenas de outras coisas que qualquer outra criança ou adolescente adorariam ter foi a tática utilizada pelo policial militar Emerson Carlos dos Santos para convencê-lo a fugir da mãe, segundo apurou o inquérito da Polícia Civil.
Caso não tivesse sido preso no último fim de semana, em Pau dos Ferros, o soldado Emerson Carlos poderia ter conseguido fugir do Rio Grande do Norte. Segundo o depoimento do adolescente, o PM o convidou para fugir para São Paulo, prometendo presentes e até inventando histórias para colocar o garoto contra a mãe, sua companheira.
Há alguns anos, o menino havia sido colocado em uma instituição que cuida de menores porque a mãe chegou a perder a sua guarda. E foi justamente isso que o policial usou para amedrontar o garoto, segundo a versão que ele contou para os policiais que estão investigando o crime.
"Ele dizia pro garoto que a mãe dele iria colocá-lo de novo em uma instituição dessas e o menino estava acreditando nisso. Era assim que ele (o policial) pretendia convencer o garoto a viajar para São Paulo", comenta Renato Batista.
Para Renato, o menino via em Emerson Carlos a figura de um pai, mas essa relação não era recíproca. "Ele vê nesse cara um pai, uma pessoa de muito respeito, muita afeição, então, é um risco um homem desse", comenta o delegado, acrescentando que "o interesse dele (do PM) não é de pai para filho. Ele ficou com a criança para fins libidinosos. Isso a gente tem convicção. Nós acreditamos que ele fez tudo isso apenas pra se aproveitar".
É justamente por essa "influência" que o policial exerce sobre o menino que ontem mesmo seria solicitado o pedido de prisão preventiva contra ele. Por enquanto, ele está recolhido no Segundo Batalhão de Mossoró por força de um mandado provisório, que é de apenas cinco dias e se vence no próximo domingo.
"A liberdade dele é um risco até pra investigação porque ela vai continuar tentando influenciar o garoto. Nossa intenção é que ele não se aproxime mais dele. Ele usou o ardio e a fraude para convencer o garoto a se afastar da mãe", complementa o delegado civil.
Militar deve ser expulso da políciaA suspeita de um policial pedófilo caiu como uma verdadeira bomba no VII Batalhão de Polícia Militar, sediado em Pau dos Ferros, onde o soldado Emerson Carlos dos Santos é lotado. Trabalhando há mais de dez anos como policial militar, ele corre sérios riscos de ser expulso da PM. O processo dura cerca de 90 dias, mas pode passar disso.
De acordo com o tenente coronel Romualdo Borges, comandante da PM de Pau dos Ferros, a notícia foi recebida com surpresa pelos quase 500 policiais que estão sob o seu comando, mas todos querem que, se for confirmado, o policial seja rigorosamente punido, e inclusive expulso.
"Uma acusação dessa natureza é um absurdo. Ele tem que combater a criminalidade. Pedofilia é um crime gravíssimo. Se for confirmado, a gente tem que tomar as providências contra ele. Ele tem que ser banido, se for confirmado mesmo. Esse tipo de comportamento não é aceito por nós de maneira alguma. Desde o início das investigações, nós estamos dando todo o apoio", desabafa Romualdo Borges.
"Isso até revolta os nossos policiais. Tudo que a gente faz diariamente para elevar o nome da corporação... Aí vem uma atitude dessas, isolada, e desmancha tudo que nós fizemos. A tropa inteira fica revoltada com esse tipo de situação", complementa o oficial.
O comandante da PM em Pau dos Ferros e outras 34 cidades daquela região, desde o início, contribuíram plenamente com as investigações que vêm sendo feitas pela Polícia Civil e que, logo após ser comunicado do caso, determinou a abertura de uma sindicância interna para apurar as denúncias contra o PM.
A sindicância deve ser concluída dentro de 30 dias e o tenente coronel já adianta que pretende anexar em seu relatório final os autos do inquérito da Polícia Civil. Todo o conteúdo é encaminhado para a Corregedoria da Polícia Militar, em Natal, onde é decidida qual a punição para o PM.
Por fim, o tenente coronel Romualdo Borges manda um recado pra toda a sociedade. "Nós não admitimos esse tipo de conduta e quem souber de algum tipo de irregularidade cometida por nossos policiais, pode ligar e denunciar", frisa.Fonte: DeFato
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