Os mais de 10 milhões de espectadores que foram ao cinema assistir Tropa de Elite 2 mostram o enorme interesse do povo brasileiro pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope), retratados como um grupo de policiais honestos, que prezam pela qualidade de sua formação, e estão sempre prontos para o confronto. Foram características como essas que fustigaram a sociedade, praticamente criando uma "Bopemania", mas o Bope da Polícia Militar do Rio Grande do Norte busca não se deslumbrar com o fenômeno, lembrando-se sempre que o batalhão é, acima de tudo, formado de soldados profissionais, que devem sempre observar técnica e caráter no exercício do combate ao crime.
A sociologia afirma que o isso é o reflexo da formação que o cidadão está tendo a partir das suas experiências do cotidiano. Viver ou saber de situações de desvio de conduta desses profissionais no dia a dia fomenta uma supervalorização de atitudes que já deveriam ser esperadas. Aequipe do Diário de Natal foi até a sede do Bope no Rio Grande do Norte para entender quem são esses homens, hoje considerados "especiais" pelo população. " Não somos especiais. É apenas uma questão de valores. Existe apenas uma minoria que não se importa com isso. Especiais são todos os policiais.", esclareceu o comandante da unidade, Major Marcos Vinícius.
O êxito das ações empreendidas no Rio de Janeiro na última semana acentuou ainda mais a ideia que o policial do Bope é um herói, conceito combatido pelo comandante perante o grupo. O major explicou que eles trabalham em situações extremas, por isso, precisam ser mais especializados, assim como várias outras unidades da polícia. O comandante diz que se preocupa com a supervalorização da tropa e que toda essa exposição faça as pessoas acreditarem que eles não são passíveis de erros. "A gente fica aqui por princípios herdados da nossa formação. Não aceitamos desonestidade. Não aceitamos corrupção. Se isso é ser diferente, eu não sei", respondeu o capitão André Luiz ao ser questionado por qual motivo ele prefere ficar no Bope, ser mais exigido, e ter o mesmo salário dos outros policiais. O comandante ressalta que o valor monetário não é decisivo. Quem desejar entrar no Bope tem que ser voluntariamente.
O sociólogo João Emanuel Evangelista conceitua que o cidadão comum vai formando sua opinião conforme as experiências diárias. "A gente sabe, até pelas experiências reais das pessoas, do nível de corrupção envolvendo os policiais. As pessoas avaliam isso e criam expectativas", apontou o professor. Segundo ele, além dessa projeção feita naturalmente pela sociedade sobre valores que ela gostaria de ter e conviver, a enfatização da mídia a respeito dos problemas de corrupção no país pode colaborar para que as pessoas façam de atitudes comuns, algo heróico "O Brasil não tem mais problemas de corrupção que os outros países. O que existe é uma dilatação dele, mas o nosso maior problema é a desigualdade social", declarou.
ROTINA DE TREINAMENTO TAMBÉM FOCADA NO PSICOLÓGICO
São 84 homens trabalhando em regime de escala e treinando diariamente o físico e o psicológico. O endereço da unidade é na Avenida João Medeiros Filho, em frente a área de lazer do Panatis, na Zona Norte de Natal. O local é uma grande área aberta, onde é possível realizar os mais diferentes tipos de atividade, desde os técnicas até as estritamente físicas. Na parte de acompanhamento de saúde o apoio vem da Universidade Potiguar (UnP).
O policial que quiser entrar para o Batalhão de Operações Especiais tem que passar pelo curso de Aplicações Táticas, que dura de oito semanas, e o de Operações Especiais com duração de cinco meses. "Ele vai estar habilitado para vir ao Batalhão e depois vamos lapidá-lo. O policial só fica pronto mesmo com quatro anos", enfatizou o major.
De todos que começam o curso, uma média de 40% termina. "Não é para chegar mais do que isso, nem a gente deixa. Prezamos pela qualidade e não pela quantidade. Ficam apenas aqueles que entram com compromisso. O que a gente observa não é se elesabe usar uma arma. Estamos vendo os valores dele. Muitos são excelentes fisicamente, mas não tem um perfil aceitável", declarou Marcos Vinícius.
Mesmo com o defícit de 100 homens, o comandante consegue cumprir suas missões. Porém, reconhece que problemas de efetivo existem em toda PM e que devem ser o motivo da lacuna deixada na escala. O Bope também divide o espaço com outras unidade da corporação, o que de acordo com o major, não interfere no desenvolvimento do trabalho. "Não é apenas comprar um arma, um veículo para o policial trabalhar melhor. Ele que poder assistir melhor sua família. Eu luto pelo meu policial e acho que eles têm que estudar. Alguns até têm cursos nacionais e internacionais, mas não são reconhecidos", opinou sobre a valorização da categoria.
O comandante ainda completou dizendo que "a educação á colocada em último plano no país. A sociedade tem direito de cobrar direitos e deveres dos policiais, mas existe todo um contexto para ajudar na segurança". O major retrata problemas básicos,como por exemplo, os de iluminação pública que geram consequências para a segurança dos moradores. O pensamento do comandante tem pontos parecidos com o do sociólogo. "O Bope aparece (no filme) como herói para resolver os problemas de segurança pelo meio da repressão. Ele não coloca em discussão as questões sociais que levam a essa violência. O filme já pega as consequências", resumiu Evangelista.
Fonte: Diário de Natal
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